DIEGO ZERBATO, ENVIADO ESPECIAL
CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS) - O vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Freddy Guevara, considera que a pressão dos países vizinhos e a crítica da procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz, levaram a Justiça a revogar as decisões que tiravam poderes do Legislativo, dominado pela oposição.
"Na medida em que a situação se complica, pode ser que o que não funcionou antes funcione agora. Por isso consideramos que o momento político e uma boa pressão nacional e internacional, além das pessoas nas ruas, pode levar a um movimento que consiga as mudanças que nos faltam.", disse à Folha nesta segunda-feira (3).
No sábado (1º), o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado por aliados do presidente Nicolás Maduro, cancelou as sentenças que lhe davam poder de legislar e acabava com a imunidade parlamentar dos deputados.
A determinação de quinta-feira (30) levou o Mercosul a ativar a cláusula democrática contra a Venezuela e os países da OEA (Organização dos Estados Americanos) a convocar com urgência uma reunião do Conselho Permanente com o mesmo intuito.
A surpresa, porém, veio no dia seguinte, quando Luisa Ortega, indicada por Hugo Chávez (1954-2013) em 2010, disse que houve uma ruptura constitucional. Horas depois, Maduro convocou o Conselho de Defesa do Estado, que decidiu cancelar as sentenças.
Para Guevara, o recuo do governo chavista, que o deputado chama de ditadura, deve aumentar a tensão e a repressão das forças de segurança a ponto de chegar a uma situação explosiva.
"Isso é um coquetel molotov, a mistura de um povo irritado e com fome e um governo que têm divisões internas, uma crise estrutural e uma comunidade internacional que condena as violações dos direitos humanos."
Ele será um dos dirigentes da oposição que participarão do protesto desta terça (4) em Caracas e que, horas depois, pretendem votar a destituição de membros do TSJ envolvidos na decisão que tirou poderes do Legislativo.
Mesmo aprovada, a medida dificilmente se aplicará porque a Justiça ainda considera a Assembleia em desacato. A polêmica se refere aos três deputados que tiveram seus mandatos impugnados por suposta fraude eleitoral.
O Legislativo os afastou, mas o TSJ diz que a medida deveria ter sido tomada pela Mesa Diretora anterior. Guevara vê, no entanto, a votação como parte da pressão contra Maduro.
Ele conversou com a reportagem após gravar um vídeo pedindo a seus seguidores que participem do protesto.
Nesta segunda, o deputado opositor Juan Resequens foi agredido por militantes chavistas ao pedir apoio em Caracas. Para o vice-presidente do Legislativo, a violência foi um dos fatores pelos quais a maior parte dos manifestantes deixou às ruas.
Por outro lado, ele reconhece que divisões dentro da oposição frustram a parcela antichavista da população.
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