ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER E GUILHERME GENESTRETI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com orçamento de R$ 15 milhões, investidores secretos e colaboração de agentes da Lava Jato, o filme "Polícia Federal - A Lei É para Todos" tem objetivo claro: "Macular a imagem" de Lula -com ajuda da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba e da Polícia Federal.
Esse é o cerne da petição encaminhada na quinta (23) por advogados do ex-presidente à instância judiciária sob guarda do juiz Sergio Moro e à PF.
Prevista para agosto, a obra terminará com o dia em que delegados buscam Lula sob condução coercitiva. De roupa de ginástica, ele (interpretado por Ary Fontoura) ouve: "Isso se chama condução coercitiva". E rebate: "Isso se chama filha da putice".
O problema é que esses detalhes só vieram à tona por dupla ilegalidade, diz à reportagem Cristiano Zanin, um dos defensores do ex-presidente. Ele questiona por que a condução foi gravada, e o vídeo depois compartilhado com a equipe da produção.
A petição pede que o filme e a revista "Veja" (que teve acesso à gravação) se abstenham de usar as imagens e que sejam identificados os responsáveis pelo vazamento.
Citando reportagem da Folha de S.Paulo, indaga também se "foram cedidos armas, uniformes, carros, helicópteros e aviões da PF para a gravação".
Essas informações foram relatadas pelo produtor Tomislav Blazic. Disse então que atores visitaram carceragem da PF em Curitiba, o que agora nega. Em novembro, atores e diretor foram à prisão e observaram detentos como Eduardo Cunha e Marcelo Odebrecht. Bruce Gomlevsky, que vive um delegado, diz que o agente Newton Ishii, o "Japonês da Federal", conduziu o tour. "Eles ficaram acuados no canto da cela. Alguns lendo, outros deitados. Deprimente."
Ao autorizar a visita, a PF promoveu um "espetáculo de horror", diz Martim de Almeida Sampaio, presidente da Comissão de Direitos Humanos da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil.
A defesa de Lula pede o fim do anonimato dos investidores do longa num momento em que "pesquisas colocam [o petista] em destaque na disputa presidencial de 2018". Outro incômodo: por que eleger a condução como "gran finale"?
Pedro Ivo Velloso, advogado de Eduardo Cunha, não sabia que a visita à carceragem onde seu cliente esteve tinha acontecido. "Não acredito que uma violação tamanha à dignidade tenha sido autorizada por um órgão cuja finalidade é proteger essas pessoas", diz.
Procurada pela reportagem, a PF não quis se pronunciar. Em despacho, Moro afirma que não lhe cabe censurar "veículos de comunicação ou mesmo a produção de algum filme". O juiz está na ficção, vivido por Marcelo Serrado.
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