SALVADOR NGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma combinação de fatores torna o sistema de planetas em Trappist-1 um dos mais importantes da história da pesquisa de mundos fora do Sistema Solar.
Ele reúne duas condições essenciais: está perto o suficiente de nós e seus planetas realizam trânsitos frequentes à frente de sua estrela, com relação a observadores por aqui.
São raros os casos relatados a combinar essas qualidades.
Os planetas descobertos até hoje pelo satélite Kepler, da Nasa, fazem os trânsitos, mas costumam estar longe.
Já os mundos descobertos próximos ao Sistema Solar, como Proxima Centauri b, a 4,2 anos-luz de distância, não parecem alinhados para realizar trânsitos, do nosso ponto de vista.
Quando os planetas de Trappist-1 fazem um trânsito à frente da estrela, parte da luz estelar cruza seu invólucro de ar e chega até nós, carregando consigo uma "assinatura" de átomos e moléculas.
Esse seria um caminho para determinar a composição atmosférica e detectar até mesmo evidências de vida.
Se um astrônomo extraterrestre analisasse o "espectro de transmissão" da Terra, ele veria grandes quantidades de oxigênio molecular.
Essa presença não poderia ser explicada por nenhum fenômeno conhecido, exceto a vida. São as plantas e cianobactérias que injetam constantemente o oxigênio no ar. É exatamente isso que os cientistas querem começar a fazer agora. O Telescópio Espacial Hubble já começou investigações desse tipo.
Observações feitas com ele permitiram descartar atmosferas ricas em hidrogênio e hélio para os dois planetas mais externos do sistema Trappist-1, algo já esperado, uma vez que atmosferas assim são típicas de gigantes gasosos, e não de mundos rochosos.
A grande revolução deve começar a partir de 2018, quando a Nasa pretende lançar o Telescópio Espacial James Webb. Com espelho maior que o do Hubble (6,5 m contra 2,4 m) e espectrógrafos sensíveis em infravermelho, ele poderá detectar componentes atmosféricos importantes, como metano, oxigênio, ozônio e vapor d'água.
Isso não quer dizer que encontraremos vida nos planetas em Trappist-1. Sara Seager, astrônoma do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e especialista em estudos de atmosfera de exoplanetas, diz que "nós teremos a capacidade de detectar bioassinaturas, mas a natureza terá de fazer a sua parte".
Os setes planetas de Trappist-1 são um ótimo ponto de partida para a busca. Mas precisamos de mais alvos.
Por isso, até o fim deste ano, a Nasa também pretende lançar o satélite Tess. À moda do Kepler, ele procurará planetas ao detectar trânsitos deles à frente de suas estrelas, mas deve se concentrar em alvos como o Trappist-1, cuja proximidade permitirá posterior caracterização atmosférica.
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