MARCELO TOLEDO E ANGELA PINHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mortes de 35 macacos com suspeita de febre amarela estão sob investigação pela Prefeitura de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). A cidade já confirmou cinco óbitos de primatas em decorrência da doença, inclusive de espécies ameaçadas de extinção.
De acordo com a prefeitura, o Instituto Adolfo Lutz enviou resultados de exames que atestaram a morte pela doença de dois macacos bugios, mãe e filho, no final do mês passado. Os cadáveres foram encontrados na zona rural da cidade.
Antes, outros três macacos já tinham morrido de febre amarela, todos achados na área urbana --dois na região central e o terceiro na Via Norte, uma das avenidas mais movimentadas de Ribeirão.
Com isso, ainda segundo a administração municipal, dos seis diagnósticos feitos até agora, apenas um não confirmou morte dos primatas pela doença.
Além dos ameaçados bugios, o município registrou mortes de saguis. Pelo país, também já foram encontrados macacos mortos das espécies sauás, macacos-prego e muriquis.
BALANÇO
De acordo com o Ministério da Saúde, foram registradas desde dezembro do ano passado 883 epizootias (mortes de um macaco ou um grupo deles) por febre amarela. Há ainda 212 sob investigação.
O número revela um aumento substancial de casos do tipo em relação aos últimos anos. De julho de 2014 a dezembro de 2016, foram 49 epizootias pelo vírus.
Para a Organização Pan-Americana da Saúde, o registro de óbitos desses animais representa "um risco de disseminação do vírus para Estados de fronteira, especialmente em áreas com ecossistema semelhante".
A advertência está em boletim epidemiológico divulgado no último dia 16 deste mês, que cita Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com Bolívia e Paraguai; Santa Catarina (com Argentina); Rio Grande do Sul (com Uruguai e Argentina); e Paraná (com Argentina e Paraguai).
população
Por serem os primeiros a serem infectados, os macacos são considerados importantes sentinelas da doença --ou seja, alertam para a circulação do vírus em um determinado local.
Especialistas não descartam, por outro lado, que uma possível causa para a expansão da febre amarela pelo país seja justamente o aumento da população de primatas.
Para Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, o reflorestamento em algumas áreas, embora benéfico ao ambiente, favoreceu a reprodução dos animais, elevando a quantidade de bichos que podem portar o vírus e ser picados por outros insetos.
Especialista em primatas, o professor Sérgio Lucena, da Universidade Federal do Espírito Santo, acha pouco provável que isso tenha ocorrido no atual surto --embora concorde que a população de macacos tenha aumentado em algumas regiões do país nas últimas décadas.
"A expansão agora se dá numa área muito fragmentada de mata atlântica. O vírus está passando por espaços que macacos não atravessam", afirma.
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