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ALEX KIDD E LÍGIA MESQUITA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Desde que o espanhol Sónar desembarcou pela primeira vez em São Paulo, em 2012, não havia um festival classudo de música eletrônica acontecendo no país.
No sábado (4) e domingo (5), o holandês Dekmantel mostrou que dá para fazer uma programação diversificada e criativa, que agradasse estilos diferentes de público, apresentasse gente nova tocando e, além de atrações internacionais, agregasse a plural cena noturna paulistana com suas diversas festas de rua que surgiram nos últimos anos (Selvagem, ODD, Mamba Negra etc.).
O público que passou pelo Jockey Club em SP nos dois dias de evento (a organização estimava 5.000 pessoas, mas até as 19h desta segunda não confirmou o número exato) assistiu apresentações que foram do multi-instrumentista brasileiro Hermeto Pascoal ao veterano DJ e produtor americano de tecno Jeff Mills.
Este foi a atração principal do sábado (4), e mostrou porque, aos 53, ainda é considerado um dos maiores nomes da música eletrônica mundial. Uma parte do público não acostumada à "technera" pesada de Mills deixou o palco rumo a um som mais leve. Encontrou abrigo, por exemplo, na pistinha de dança que se tornou o palco Gop Tun/Boiler Room, com o holandês Tom Trago tocando.
Antes de Trago, dois grupos brasileiros fizeram ótimas apresentações: o veterano Azymuth e o paulistano Bixiga 70. Este animou o público logo que a chuva parou.
Mesmo com água caindo e lama, a organização do Dekmantel foi boa. A cenografia, assinada por Marko Brajovic, Guto Requena, Felipe Morozini e SuperLimão Studio foi um dos destaques, com espaço de convívio (praça de alimentação com food trucks, mesas coletivas e espreguiçadeiras para as pessoas descansarem).
Havia boa quantidade de bares e banheiros químicos limpos. O único problema era que o festival te obrigava a gastar R$ 5 por um cartão de consumo recarregável. O valor era devolvido para quem tivesse paciência em pegar fila no final.
No domingo (5), com o tempo bom, o palco UFO era o mais disputado no meio da tarde. Apesar de apertado, a escalação do espaço estava imperdível. O mineiro Zopelar optou por um set bastante percussivo e esquentou a pista para Joey Anderson, que fez um dos melhores sets do festival.
O DJ americano tocou por mais de duas horas, caprichou nos timbres alienígenas e não dispensou hits. Foi de Bowie a Michael Jackson e encerrou com o hino "house" "Can You Feel It", de Mr. Fingers, que aumentou a temperatura da pista que derretia com o sol das 17h.
No mesmo horário, a alemã Lena Willikens lotou o palco "Selectors" com seu não-estilo definido: mistura house, disco sintético, um pouco de prototechno (afinal, Kraftwerk é uma das suas influências).
Já no fim da tarde, o "live" bastante melódico do holandês Fatima Yamaha apostou em camadas de sintetizadores mais relaxantes. Serviu para tranquilizar a pista que esperava ansiosamente por Nicolas Jaar, a principal atração da noite.
Antes de Jaar fechar a noite, o público ganhou outro presente: uma performance excelente do espanhol John Talabot, que botou todo mundo para dançar com sua mistura de techno e house.
Se o festival terminasse ali, já estaria perfeito. Mas ainda tinha Nicolas Jaar.
O americano de 27 anos, de ascendência chilena -ele é filho do artista Alfredo Jaar, que deixou o Chile nos anos 90-, fez um set memorável, tocando teclado, sax e abusando de sintetizadores. Tocou vários de seus hits como "No" e "Space Is Only Noise When You See".
Mas nem tudo podia ser perfeito. Atendendo a um pedido de última hora da subprefeitura de Pinheiros, que queria que o festival terminasse mais cedo, já que o Jockey fica numa área residencial, a organização antecipou o término do evento para as 22h30, em vez de 23h30.
O resultado foi frustrante. Tanto no sábado quanto no domingo, quando as apresentações de Mills e Jaar estavam no auge, foram interrompidas bruscamente, lembrando aquelas festas de adolescência quando o adulto responsável tirava o som da tomada.
DEKMANTEL SÃO PAULO
Avaliação: muito bom
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