SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Morreu nesta sexta-feira (6), em Buenos Aires, o escritor Ricardo Piglia, aos 75 anos. Um dos mais importantes autores argentinos contemporâneos, o autor de "Dinheiro Queimado" e "Respiração Artificial", ambos lançados no Brasil pela Companhia das Letras, padecia de esclerose lateral amiotrófica (ELA), desde 2014. Segundo o jornal "Clarín", ele morreu após uma parada cardíaca.
Nascido em Adrogué, Piglia era um estudioso da literatura argentina e, em seus livros, sempre estabelecia um diálogo entre a atualidade e esse passado.
Desde que recebeu o diagnóstico da doença, passou a trabalhar de modo acelerado em sua biografia, assinada com o nome de seu alter ego, Emilio Renzi. A obra, em três volumes, chamava-se "Diários de Emilio Renzi" e ainda não foram publicados na íntegra na Argentina. Também realizou um documentário, dirigido por Andrés Di Tella, no qual relatava a experiência de abrir seus cadernos de anotações desde a adolescência até os dias de hoje e apontar os momentos mais importantes de sua vida, em paralelo com as várias fases da história argentina que acompanharam sua vida.
Piglia também exercia intensa atividade acadêmica. Durante muitos anos, dividiu sua vida entre Buenos Aires e Princeton, nos EUA, onde dava aulas de literatura latino-americana. O ambiente universitário o inspirou a escrever "O Caminho de Ida", último romance lançado no Brasil.
Piglia ganhou projeção internacional com "Respiração Artificial", e ficou ainda mais conhecido quando sua obra "Dinheiro Queimado" foi levada às telas. Sua referência aos grandes nomes da literatura argentina o fez dirigir projetos sobre eles, como uma série de documentários sobre Jorge Luis Borges, para a TV pública local.
Recebeu vários prêmios literários, como o Romulo Gallegos, e suas obras estão traduzidas a mais de 15 idiomas.
Em sua última entrevista à Folha de S.Paulo, já doente, no ano passado, Piglia falou sobre a experiência recente de abrir seus diários de adolescente. Um dos momentos mais marcantes, contou ele, foi quando saiu de Adrogué, porque o pai, peronista, havia se metido em um conflito político com opositores, na pequena cidade. Dali, viajariam a Buenos Aires.
"A viagem foi para mim uma travessia para o desterro. Eram apenas 400 km até Mar Del Plata [onde a família se instalou], mas eu estava deixando para trás toda uma forma de vida. Foi um rito de passagem. Soa como um exagero, mas as experiências decisivas surgem para nós como exageros. O que importa nos fatos é a intensidade que atribuímos a eles", disse o autor.
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