SALVADOR NOGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Imagens produzidas por um orbitador da Nasa trazem evidências conclusivas de que o módulo de pouso europeu Schiaparelli colidiu violentamente contra a superfície de Marte.
Duas manchas apareceram na superfície do planeta que antes não estavam lá, localizadas bem no meio da provável região em que aconteceria o pouso.
Uma delas, menor e de tom claro, está sendo interpretada como o paraquedas. A maior e escura, localizada a cerca de um quilômetro de distância, indica o ponto em que o módulo tocou o solo.
As imagens foram colhidas pela câmera de baixa resolução CTX, instalada a bordo da espaçonave Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa.
Elas revelam que a trajetória originalmente calculada para o pouso foi seguida à risca. Mas também indicam o fracasso na tentativa de descer suavemente ao solo.
A mancha escura onde tocou o Schiaparelli não deveria estar lá se tudo tivesse corrido bem --a câmera CTX, no limite extremo, veria o módulo, com seu 1,65 m de diâmetro, como um pixel brilhante.
Em vez disso, temos uma área escurecida de 40 metros x 15 metros. Tudo indica que o Schiaparelli colidiu violentamente com a superfície e, possivelmente, explodiu.
"As estimativas são de que o Schiaparelli tenha caído de uma altura entre 2 km e 4 km, impactando a velocidade considerável, acima de 300 km/h", disse a ESA (Agência Espacial Europeia), em nota.
"O tamanho da mancha teria então surgido da perturbação de material da superfície. É também possível que o módulo de pouso tenha explodido no impacto, uma vez que seus tanques de combustível dos propulsores estavam provavelmente cheios."
O módulo de pouso fazia parte do programa ExoMars, que envolve também um orbitador (o Trace Gas Orbiter), colocado com sucesso ao redor de Marte na quarta-feira, e um jipe robótico, que deve ser lançado em 2020. O custo total do programa é estimado em 1,3 bilhão de euros. O Schiaparelli era o mais barato dos componentes, e gerou dados valiosos antes de impactar contra o solo.
RECONSTRUINDO a FALHA
Constatar que o pouso deu errado, a essa altura, ficou fácil. Entender o que deu errado vai levar mais tempo.
Na semana que vem, o Mars Reconnaissance Orbiter deve fazer imagens do local do impacto com sua câmera mais poderosa, a HiRISE.
E os engenheiros da ESA e da Roskosmos (agência russa) continuarão seu trabalho na análise da telemetria.
Por ora, o que se sabe é que as coisas começaram conforme o script, com a entrada do Schiaparelli na atmosfera às 12h42 de quarta-feira (19).
A descida até o chão levaria cerca de seis minutos. Os escudos térmicos aguentaram, freando a nave, graças ao atrito com a atmosfera, de 21 mil km/h para 1.700 km/h.
Conforme o planejado, os paraquedas se abriram, reduzindo mais a velocidade. O escudo térmico foi ejetado.
E aí as coisas começaram a dar errado. Ainda não está claro se os eventos seguintes passaram a ocorrer antes do previsto, mas o fato é que, após o desprendimento dos paraquedas, a missão pegou o caminho do fracasso.
Os retropropulsores, que deveriam fazer a frenagem final rumo ao solo, se desligaram após apenas 3 ou 4 segundos de funcionamento.
A sonda seguiu enviando telemetria depois disso por algo como 19 segundos -provavelmente o tempo de queda livre até o solo.
Falta identificar o que levou a essas falhas. E então aplicar as lições aprendidas na próxima missão.
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