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Fantasma de Borges 'aparece' em debate com Manguel e Robert Darnton

MAURÍCIO MEIRELES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fantasma do escritor argentino Jorge Luis Borges apareceu, na noite desta terça-feira (30), em uma mesa com o historiador Robert Darnton e o ensaísta Alberto Manguel, e acompanhou a reunião dos dois intelec

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 31.08.2016, 00:22:28 Editado em 31.08.2016, 00:25:10
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MAURÍCIO MEIRELES

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fantasma do escritor argentino Jorge Luis Borges apareceu, na noite desta terça-feira (30), em uma mesa com o historiador Robert Darnton e o ensaísta Alberto Manguel, e acompanhou a reunião dos dois intelectuais.

Não, não era uma mesa espírita nem a aparição é literal, para tristeza dos fãs do autor. Os dois se reuniram para o debate, no Sesc Vila Mariana, que deu início à série de encontros em homenagem aos 30 anos da Companhia das Letras.

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Com mediação do jornalista e crítico literário Sérgio Rodrigues, a dupla discutiu suas obras, que se destacam pelas reflexões sobre o universo do livro -tanto do ponto de vista concreto (o que muda com o livro digital?) quanto do abstrato (uma biblioteca infinita será um pesadelo?).

Como não poderia deixar de ser com um assunto desses, parte importante do debate foi pautado pelas abstrações desenvolvidas na obra de Borges. Não só por ser o argentino autor do conto "A Biblioteca de Babel", mas também pelas reflexões feitas por ele sobre a memória, a literatura e o conhecimento.

Questionado por Darnton se a biblioteca sonhada pelo escritor era um pesadelo, Manguel concordou.

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"Com certeza é um pesadelo. A biblioteca que não contém tudo é a biblioteca que não contém nada", afirmou o argentino.

Ele lembrou que, no conto, Borges conta que há o catálogo da biblioteca infinita -mas com milhares de catálogos falsos e também os que provam a mentira dos catálogos falsos e ainda os que questionam o catálogo verdadeiro.

Manguel afirmou também que o pesadelo dos livros em número infinito é antigo e já estava descrito no "Eclesiastes", um dos livros do Velho Testamento. Para ele, esse cenário se assemelha à internet.

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Vale lembrar que Manguel, que na juventude lia para Borges depois que o autor ficou cego, dirige a Biblioteca Nacional Argentina. E Darnton é diretor da biblioteca da Universidade de Harvard.

Aos discutirem a forma de organizar tanto conhecimento, Darnton fez uma crítica ao mecanismo de busca do Google.

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"Eles têm o ranking de relevância. Isso é terrível, é uma forma de vulgarização, uma ameaça à livre circulação de ideias", afirmou o historiador.

Mais à frente, quando discutiam a digitalização de informações, Darnton defendeu que a pesquisa em arquivos -ferramenta crucial em seu trabalho- mostra ter o homem acesso à "fração da fração da fração" da informação que existe.

Darnton e Manguel questionavam um ao outro, por vezes gerando um embate bem humorado de ideias e arrancando risos da plateia.

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Borges voltou à cena quando o historiador questionou por que o argentino defendia a necessidade de haver uma biografia do autor.

"Até agora ele não teve uma biografia intelectual. Os livros são análises psicológicas ou [reuniões] de episódios da sua vida sexual ou visão política. Isso pode ser interessante com outros autores, mas no caso dele afasta [os leitores] de sua literatura", disse Manguel.

Ele contou ainda sua relação com Borges e deu uma descrição engraçada do escritor: parecia fantasmagórico. Dava o aperto de mão mais fraco. A voz tremia "quase que deliberadamente".

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CENSURA

Manguel acaba de lançar no Brasil "Uma História Natural da Curiosidade"; Darnton, "Censores em Ação".

A discussão em torno do livro do historiador americano sobre três momentos históricos em que a censura restringiu a expressão literária foi outro ponto alto.

Questionado pelo mediador se a censura não seria, de certa forma, "uma homenagem" ao poder da literatura, Darnton afirmou que ela pode sim enriquecer a produção literária.

"Ela faz os leitores lerem as entrelinhas", disse. "Mas devemos ter censura de novo? Não! Temos simpatias pelas vítimas [dela], mas a maioria não conhecemos, porque elas morreram."

Ele arrancou risos da plateia ao contar sua pesquisa sobre o censores franceses do século 18 e descrevê-los como críticos literários.

"Fiquei fascinado com os memorandos da censura. Eles nunca diziam que um livro ofendia a igreja. Diziam 'É muito mal escrito, o estilo é terrível, devemos rejeitá-lo'".

Os encontros de 30 anos da Companhia das Letras seguem até outubro e reunirão autores como Mia Couto, Ian McEwan e David Grossman.

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