GUSTAVO URIBE E MARINA DIAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Michel Temer fez nesta terça-feira (27) seu mais duro ataque contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusou de buscar "revanche, destruição e vingança" ao denunciá-lo sob acusação de corrupção passiva.
No pronunciamento que fez no Palácio do Planalto, Temer pediu "provas concretas" de que cometeu qualquer ato ilícito e sugeriu que o objetivo da denúncia contra ele é "parar o país".
Em uma grave escalada pública contra o chefe da PGR (Procuradoria-Geral da República), o presidente insinuou que Janot recebeu propina do ex-procurador Marcelo Miller, que deixou o Ministério Público Federal para atuar em um escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência da JBS.
"Talvez os milhões de honorários recebidos não fossem apenas ao assessor de confiança [Miller], mas eu tenho responsabilidade e não farei ilações. Tenho a mais absoluta convicção de que não posso denunciar sem provas", disse Temer, referindo-se ao ex-procurador como "homem da mais estrita confiança" de Janot.
Durante discurso de cerca de vinte minutos, Temer tentou desqualificar a denúncia apresentada contra ele e disse que Janot realizou um "trabalho trôpego".
"As regras mais básicas da Constituição Federal não podem ser esquecidas e jogadas no lixo, tripudiadas pela embriaguez da denúncia, que busca a revanche a destruição e a vingança. E ainda assim fatiam a denúncia para provocar fatos contra o governo, querem parar o país e parar o Congresso Nacional, em uma ato político de denúncias frágeis e precárias", declarou Temer, ressaltando que tem disposição em continuar no cargo.
De acordo com o presidente, Janot fez uso de provas "ilícitas" e inaugurou uma nova teoria do Código Penal, a da "ilação". O peemedebista se refere à gravação de uma conversa entre ele e o empresário Joesley Batista, da JBS, em que ambos conversam sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro do ano passado.
Segundo a PGR, na conversa os dois acertaram o pagamento de propina e o presidente deu aval para a compra do silêncio de Cunha.
O presidente negou mais uma vez ter cometido qualquer irregularidade e disse que o Brasil está sendo vítima de uma "infâmia de natureza política".
"Fui denunciado por corrupção passiva a essa altura da vida sem jamais ter recebido valores. Eu nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos", declarou Temer.
O presidente afirmou ainda que a denúncia apresentada pela PGR "não tem fundamento jurídico" e que, sob esse aspecto, não tinha preocupação com a matéria. No entanto, prosseguiu o presidente, fazia a declaração pública em função da "repercussão política" dos fatos.
CLAQUE
Para tentar demonstrar força política em meio à mais aguda crise que assolou seu governo, o peemedebista convocou uma espécie de claque para o pronunciamento. As duas primeiras fileiras do Salão Leste do Palácio do Planalto foram reservadas para parlamentares da base aliada, de partidos como PMDB, PTB e PP.
Minutos antes do discurso do presidente, os cerca de 40 deputados, que já estavam sentados em seus lugares, foram chamados para pajear Temer durante a entrada e fazer volume nas imagens geradas pela imprensa.
Entre eles estavam os dois principais cotados para a vaga de relator da denúncia contra o presidente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara: os deputados do PMDB, Jones Martins (RS) e Alceu Moreira (RS). O posto é considerado chave para Temer, que pretende acelerar a tramitação da denúncia na Câmara para enterrá-la em votação no plenário, onde precisa de 172 votos.
Quando foi afastada do cargo de presidente da República, em 12 de maio de 2016, Dilma Rousseff havia reproduzido a mesma cena, em um discurso ladeado de parlamentares aliados e ministros de seu governo antes de deixar o cargo.
DENÚNCIA
Nesta segunda-feira (26), a PGR apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) uma denúncia contra o presidente sob acusação de corrupção passiva.
Segundo Janot, Temer foi o destinatário final de uma mala contendo R$ 500 mil em propina e de uma promessa de outros R$ 38 milhões em vantagem indevida, ambas por parte da empresa JBS. É a primeira vez na história brasileira que um presidente da República é acusado formalmente de crime no exercício do cargo.
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