SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Preso nesta terça-feira (23) na Espanha, o ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell teria recebido comissões de até 41% pela venda dos direitos de 24 amistosos da seleção brasileira de futebol disputados entre 2006 e 2012. Essa informação está presente em documentos obtidos e publicados pelo jornal espanhol "El Confidencial" nesta quarta-feira (24).
Segundo os investigadores da operação Rimet em alusão à taça Jules Rimet, entregue aos campeões mundiais até 1970 e roubada no Brasil , mais de 15 milhões (cerca de R$ 49 milhões) teriam sido acumulados por Rosell em esquema criminoso e teriam sido colocados em contas no Qatar e Andorra. Esse valor teria sido dividido com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, que ficou no comando da entidade entre 1989 e 2012.
Além de Rosell, sua mulher, Marta Pineda (já liberada); Shahe Ohannessian, empresario libanês que comprou a empresa Bonus Sports Marketing de Rosell; Joan Besolí, sócio de Rosell em Andorra; e Andreu Ramos, amigo de Rosell, foram detidos em operação destinada a combater lavagem de dinheiro.
A amizade entre Rosell e Teixeira se deu no período em que o catalão foi diretor de marketing da Nike na América Latina e cuidou das relações entre a multinacional e a CBF.
Os delitos de Rosell remontariam mais especificamente a 2006, quando a empresa ISE, pertencente ao grupo Dallah Abarraka Group, da Arábia Saudita, adquiriu os direitos de organização de 24 amistosos da seleção brasileiro junto a CBF. Cada amistoso renderia US$ 1,1 milhão (cerca de R$ 3,6 milhões) para a CBF, e a ISE poderia escolher os adversários e os locais dos confrontos.
Outro contrato, no entanto, determinava o pagamento de 8,3 milhões (R$ 30,5 milhões) para a empresa Uptrends Developments, com sede em Nova Jersey. Rosell era um dos sócios da Uptrends.
Segundo o jornal espanhol "As", a Justiça dos EUA pode pedir a extradição de Rosell por seu vínculo com Teixeira e possivelmente com o escândalo de corrupção na Fifa.
Teixeira está no Rio e, por isso, não pode ser preso. Segundo o jornal espanhol "El Pais", ele é alvo da operação.
"Estamos tentando entender a informação oficial para ver se ele está sendo investigado e por quê", disse o advogado de Ricardo Teixeira, Michel Assef Filho, ao "UOL Esporte".
Já a CBF nega que Rosell tenha qualquer participação em contratos da entidade. "Não há nenhum registro de sua suposta atuação em negócios realizados pela CBF a qualquer tempo", disse a entidade.
Ao jornal espanhol "Marca", o advogado de Rosell, Pau Molins, disse que seu cliente não tem "nada do que se arrepender" e que suas ações no Brasil são "totalmente legais".
RELAÇÕES PERIGOSAS
Apontado como sócio oculto de Teixeira, o ex-presidente do Barcelona repassou pelo menos R$ 23,8 milhões ao cartola mineiro e seus familiares. A maior parte foi embolsada no final do seu último mandato, em março de 2012.
No ano anterior, Rosell chegou a depositar R$ 3,8 milhões na conta de uma filha de Teixeira, que tinha 11 anos.
No mesmo ano, uma empresa do catalão pagou R$ 2,8 milhões pela parte da W Trade Brasil Importação e Exportação, em duas salas num shopping sofisticado no Leblon, zona sul do Rio.
A W Trade era registrada em nome da mulher do cartola brasileiro na época.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a empresa tinha feito apenas uma operação de exportação.
O ex-presidente do Barcelona começou sua amizade com Teixeira no final dos anos 1990, quando Rosell se mudou para o Brasil como executivo da Nike, empresa que patrocinava a seleção.
Após a Copa de 2002, Rosell deixou a multinacional e se tornou parceiro da CBF.
O catalão fundou a Brasil 100% Marketing, empresa que promovia os amistosos da seleção. Ele ainda criou a Ailanto, outra empresa montada para realizar um jogo da seleção em 2008 em Brasília.
A Ailanto é acusada pelo Ministério Público de superfaturar despesas e desviar dinheiro público com a organização da partida.
Em 2012, o jornal "Folha de S.Paulo" revelou o primeiro elo comercial entre Teixeira e a Ailanto.
Por meio da VSV Agropecuária Empreendimentos, que pertencia a Ailanto, Teixeira assinou um contrato com a empresa de Rosell para receber R$ 600 mil. Apesar do acordo, a VSV nunca trabalhou na fazenda.
O mais alto deposito na conta de Teixeira feito por Rosell em janeiro de 2012. De acordo com a CPI do Futebol, o catalão pagou R$ 13 milhões ao brasileiro logo após a renovação do acordo entre CBF e ISE em 2012. O motivo do pagamento não foi revelado.
No ano anterior, Sandro Rosell já havia depositado R$ 3,6 milhões para dois filhos do cartola brasileiro, Ricardo Teixeira Havelange e Roberto Teixeira Havelange. Cada um recebeu R$ 1,8 milhão.
A TRAJETÓRIA DE SANDRO ROSELL
6.mar.1964
Nasce em Barcelona Alexandre Rosell i Feliu, que passaria a ser conhecido como Sandro Rosell.
1990
Rosell se torna responsável pelos patrocinadores internacionais do departamento de marketing do Comitê Organizador dos Jogos de Barcelona-1992.
1993
Vira diretor na Espanha da suiça ISL, empresa dedicada ao patrocínio esportivo e que era parceira de Fifa, COI e UEFA, entre outras entidades esportivas.
1996
Torna-se responsável pelo marketing esportivo da multinacional Nike na Espanha e em Portugal.
1999
Torna-se diretor de marketing da Nike na América Latina e se muda para o Rio. Entre outras atribuições, cuidou do contrato entre Nike e a CBF.
2002
Volta à Espanha e funda a empresa de marketing esportivo Bonus Sports.
2003-2005
Vira vice-presidente esportivo do Barcelona na gestão de Joan Laporta.
2008
Em parceria com Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, organiza amistoso entre Brasil e Portugal. Rosell e Teixeira são investigados pelo Ministério Público do Distrito Federal por suspeita de terem superfaturado o jogo realizado em Brasília numa contratação sem licitação.
2010-2014 É eleito presidente do Barcelona. A despeito de diversos momentos tensos ao longo do mandato, como a ruptura com o ídolo do time Johan Cruyff, seu pior momento foi a renúncia no início de 2014 após ser acusado de fraude fiscal na contratação de Neymar.
2011
Barcelona paga 40 milhões ao pai de Neymar. Explicação inicial era que se tratava de um empréstimo. Depois, Rosell mudou a versão para dizer que era o dinheiro para garantir a transferência do atacante. Acusado de fraude fiscal em 2014, Rosell foi inocentado após um acordo entre a diretoria do Barça e Justiça.
2016
FBI solicita à Justiça espanhola informações a respeito dos negócios de Rosell.Pela investigação, Rosell teria, além da amizade com Teixeira, vínculos com Julio Rocha, ex-presidente da Federação de Futebol da Nicarágua, e com Rafael Esquivel, ex-presidente da federação venezuelana.
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