A Fosfoetanolamina, a droga brasileira produzida pela Universidade de São Paulo (USP) e que promete curar o câncer, tem sido motivo de muita polêmica. Pessoas com a doença tem "apostado" tudo na substância. Apesar de nunca ter sido testada como medicamento, a pílula do câncer, como é chamada popularmente, ganhou notoriedade depois de ter sido distribuída por um professor do Instituto de Química de São Carlos.
Durante mais de 20 anos, o químico distribuiu gratuitamente e por iniciativa própria a Fosfoetanolamina para diversos pacientes e muitos relataram melhoras significativas e até a cura da doença. Uma portaria da USP, universidade a qual o IQSC é ligado, no entanto, proibiu em 2014 a distribuição do medicamento, justamente pela falta de testes, pesquisas, registro e autorização da Anvisa. Após o encerramento da produção da droga por parte da USP, milhares de pedidos judiciais foram, e continuam sendo protocolados para a universidade conceder a fórmula.
O oncologista Bruno Scardazzi Pozzi, radicado no setor de oncologia do Hospital da Providência, em Apucarana (norte do Paraná) lembra que conforme a legislação brasileira, para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária reconheça uma droga como um medicamento legal, permitindo assim sua fabricação e comercialização, é preciso que o produto, através de comprovação científica e de análise, “seja reconhecido como seguro e eficaz para o uso a que se propõe, e possua a identidade, atividade, qualidade, pureza e inocuidade necessárias”.
Por ser um medicamento novo, há exigência de que sejam oferecidas “amplas informações sobre a sua composição e o seu uso, para avaliação de sua natureza e determinação do grau de segurança e eficácia necessários”.
"Essa aprovação só pode ser alcançada após a realização de testes em seres humanos, que servirão como base para a comprovação de que os benefícios do medicamento superam seus eventuais riscos", afirma o oncologista.
De acordo com médico, a complexidade de formas, variações, reações e transformações através das quais uma doença como o câncer se manifesta faz com que seja improvável a ideia uma cura definitiva para essa doença com um único remédio para todos os tipos de neoplasia.
"Cada tipo de câncer tem manifestações diferentes e há ainda as peculiaridades genéticas de cada paciente, que faz com que a droga tenha efeitos diferenciados em cada indivíduo. Um medicamento usado para tratar câncer linfático, por exemplo, não tem eficácia para combater tumor no pâncreas. Essa é a realidade que deve ser esclarecida para a população", diz Bruno.
"Quando a situação é desesperadora, qualquer possibilidade é uma esperança"
A profissional liberal Maria Ercília de Souza, residente em Apucarana, conta que um irmão dela, de 46 anos, faleceu recentemente com câncer no fígado."Meu irmão não chegou a ser tratado como a Fosfoetanolamina, mas não hesitaria em concordar que ele tomasse o remédio se o medicamento estivesse a nossa disposição, pois quando a situação é desesperadora, qualquer possibilidade de cura é uma esperança tanto para o enfermo como para a família do doente", pontua.
"Igual erva daninha"
O médico Michel Aoki, radicado em Apucarana, compara o câncer a ervas daninhas. "Essa doença é realmente uma praga; como mato que cresce no jardim: você tira as células doentes através de cirurgia e elas reaparecem em outro lugar do corpo. Acredito que será através do avanço do estudo genético que poderemos um dia vencer a batalha contra essa doença", supõe Aoki.
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