GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Palco do maior conflito militar da história, Berlim recebeu na 66ª edição de seu festival internacional de cinema dois dramas de guerra bastante distintos que competem pelo Urso de Ouro.
A uma caminhada de apenas 11 minutos de onde Hitler manteve seu bunker, a Berlinale apresentou, na manhã desta segunda (15) a estreia mundial de "Alone in Berlin" (sozinho em Berlim), sobre um casal que enfrentou o nazismo. No domingo, foi a vez do português Ivo M. Ferreira apresentar a sua visão, bem distinta, sobre um outro confronto militar, a libertação de Angola em "Cartas da Guerra".
Os britânicos Brendan Gleeson e Emma Thompson vivem Elise e Otto Hampel, alemães que durante a Segunda Guerra distribuíram secretamente panfletos com dizeres contra o Führer. A história real virou romance nas mãos do escritor Hans Fallada, em 1946, e deu origem a "Alone in Berlin", dirigido pelo suíço Vincent Perez (mais conhecido como ator em filmes como "Rainha Margot").
"Uma das razões que nos levaram a rodar em inglês é porque essa é uma história europeia", disse a atriz Emma Thompson na entrevista coletiva, respondendo a perguntas sobre o fato da trama alemã ter uma equipe tão internacional por trás.
O filme é uma espécie de thriller: acuado, o casal tem de agir sozinho e teme a delação até mesmo de seus vizinhos. "Com pessoas agindo contra as outras e espionando, se cria um inferno", disse Thompson.
O ator catalão de origem alemã Daniel Brühl traçou paralelos com a situação da Alemanha atual e a crise dos refugiados: "Há um movimento crescente nesse país rumo à direita. A doença não morreu."
"Cartas da Guerra" envereda por uma trincheira bem diferente: inspirado nas missivas trocadas entre o escritor António Lobo Antunes, servindo como médico em Angola, e sua mulher, em Lisboa, Ferreira criou um filme lírico, sensorial, repleto de quadros rigorosamente construídos.
A fotografia em preto e branco e o uso extenso da voz em off lembram "Tabu", do conterrâneo Miguel Gomes.
A imprensa malhou o retrato poético do conflito, que não mostra, por exemplo, os portugueses cometendo crueldades de guerra: fumam, suspiram, divagam, olham para o céu.
"É um filme de amor passado na guerra, não uma tragédia", disse Ferreira. "O filme mostra personagens numa guerra estúpida. Os portugueses também foram vítimas: lutavam em algo em que não acreditavam."
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Berlim
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