ANAÏS FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O crédito para aquisição e construção de imóveis desabou 38% em 2016, mas o pior pode ter passado, disse a Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) nesta terça-feira (24).
No ano passado, as concessões de empréstimos pelo chamado SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), financiadas com recursos de poupança, somaram R$ 46,6 bilhões, contra R$ 75,6 bilhões em 2015.
Foi o menor patamar desde 2009, quando as concessões pelo SBPE atingiram R$ 34 bilhões.
Entre janeiro e dezembro de 2016, foram financiados 199,69 mil imóveis, queda de 41,5% na comparação com 2015.
Juros e desemprego altos tiraram a confiança do consumidor na compra da casa própria, afirma Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da associação.
Para este ano, a associação estima que as concessões devem chegar a R$ 49 bilhões, alta de 5% ante 2016.
"Parece que o fundo do poço passou. O ano de 2017 não deve ser de um grande rompante nessa área. O desemprego continua alto, taxa de juros está caindo, mas ainda está alta. Isso sinaliza, porém, uma reação, mesmo que moderada", diz Filho.
Em 2016, foram liberados R$ 36 bilhões a pessoas físicas para aquisição de imóveis, retração de 34% em relação a 2015.
O impacto foi maior no financiamento de imóveis usados. O crédito para a compra dessas unidades caiu 41% em relação a 2015, para R$13,7 bilhões, enquanto o financiamento de imóveis novos recuou 30%, somando R$ 22,3 bilhões.
Já o financiamento para a construção (pessoa jurídica) caiu 49% na mesma comparação, influenciado pela queda nas vendas das incorporadoras e menor demanda.
De janeiro a dezembro de 2016, foram liberados R$ 10,6 bilhões para a construção, ante R$ 20,8 bilhões em igual período do ano anterior.
O SBPE, que financia unidades com perfil mais de classe média, pode ganhar algum fôlego com cortes na taxa básica de juros -no dia 11, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a Selic em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano.
Isso porque, conforme os juros subiam, menos atrativo se tornava o investimento em poupança, que começou a ter resgates de dinheiro. A inflação elevada também contribuiu para que a caderneta perdesse atratividade para o investidor. Em 2016, a captação líquida da aplicação foi negativa em R$ 40,7 bilhões.
"Com os juros caindo, podemos chegar ao final de 2017 com a poupança voltando a ser um investimento competitivo", diz Filho.
FGTS
Os empréstimos com recursos do FGTS, voltados basicamente para habitação popular, no entanto, mantiveram o crescimento.
Impulsionado pelo programa Minha Casa Minha Vida, esse financiamento atingiu R$ 64 bilhões em 2016, ante R$ 54 bilhões em 2015.
"Esse é um setor menos sensível às oscilações de mercado", diz Filho. Para 2017, no entanto, a entidade ressalta a expectativa de orçamento do Fundo de queda de 1,5% para esse tipo de financiamento.
MEDIDAS DO GOVERNO
Dentro do pacote para tentar estimular a economia anunciado pelo governo Temer em dezembro estão medidas com potencial de impacto no setor imobiliário, como a regulamentação da LIG (Letra Imobiliária Garantida), que ampliaria a oferta de crédito para a construção civil.
Sobre a permissão para saque de contas inativas do FGTS, Filho diz não saber opinar se isso pode afetar o financiamento, e se limitou a afirmar que "potencialmente, pode haver revisão no FGTS".
Ele avalia, no entanto, que a proposta sondada pelo governo de permitir o uso do FGTS para quitar dívidas não é prejudicial para o financiamento imobiliário. "Parte do recurso do FGTS vem da contribuição do emprego. A medida que a gente conseguir fazer a economia girar e ter mais emprego, vai ter mais dinheiro sendo aportado no fundo", diz.
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