Uma condição genética rara que não parece um problema à primeira vista, quando é descrita superficialmente, pode acarretar situações indesejáveis para seus portadores.
Trata-se da síndrome de Williams, que afeta cerca de uma em cada dez mil pessoas em todo o mundo. Quem sofre desta síndrome tem um excesso de oxitocina, substância também conhecida como hormônio do amor e, consequentemente, ama incondicionalmente todo mundo.
Por que isso pode ser ruim?
Os portadores desta doença enfrentam problemas tão desafiadores quanto aqueles com autismo, como dificuldades de aprendizagem e de formar amizades. Pessoas com Williams tendem a amar e confiar em todos, então correm até estranhos e os abraçam, o que, consequentemente, também os deixa muito vulneráveis.
A síndrome foi identificada pela primeira vez na década de 1960, na Nova Zelândia, pelo cardiologista John Williams. Ele notou que muitos de seus pacientes apresentavam uma condição cardíaca chamada estenose aórtica supravalvular. É muito rara, exceto em pessoas com Williams.
O cardiologista também percebeu que vários pacientes tinham personalidade similar e características faciais distintas. Os portadores de Williams tendem a ter uma aparência “élfica”, razão pela qual a doença foi originalmente chamada de síndrome da face élfica. Eles têm queixos estreitos, orelhas proeminentes, maçãs do rosto altas e narizes virados para cima.
A condição é causada por uma deleção genética muito pequena, cerca de 26 a 28 genes ausentes no cromossomo 7. Existem alguns sintomas graves, como deficiência intelectual, problemas cardíacos e problemas gastrointestinais e musculares. Do ponto de vista do desenvolvimento, é semelhante à síndrome de Down. Em média, o QI de pacientes com Williams tende a ser cerca de 50, conforme o portal National Geographic.
Livro conta história de portador
Recentemente, foi lançado o livro “The Boy Who Loved Too Much: A True Story Of Pathological Friendliness”, de Jennifer Latson, que conta a história de um paciente americano com síndrome de Williams sob o pseudônimo de Eli D’Angelo.
De acordo com Latson, que conheceu o menino quando ele tinha 12 anos, as pessoas com Williams tendem a não ser muito boas na interpretação de pistas sociais. Por exemplo, elas não percebem quando estão conversando com alguém e essa pessoa quer ir embora. Seus interesses também são semelhantes aos de pessoas com autismo.
Em seu livro, Latson escreveu que “as pessoas com Williams destacam algumas das melhores características da humanidade”. De acordo com a autora, um estudo de 2010 mostrou que as pessoas com a síndrome não possuem nenhum viés racial, enquanto que, aos três anos de idade, todos os outros grupos mostravam uma preferência implícita para sua própria raça.
Pessoas com Williams possuem uma crença básica na bondade de todos. Elas assumem muito mais riscos do que nós, e acabam bem na maior parte do tempo. Falando sobre sua experiência ao lado de Eli, Latson resumiu: “Eu aprendi que você pode ser mais aberto e vulnerável, e que você pode ganhar com isso”.
Sensibilidade musical
Outra descoberta interessante é que os portadores da síndrome são muito musicais. Um estudo da Universidade Vanderbilt, nos EUA, do qual Eli participou, queria determinar se pessoas com Williams possuem de fato uma tendência maior a serem gênios musicais.
Isso não está ainda totalmente evidenciado cientificamente, mas pessoas com Williams realmente têm uma queda acentuada pela música. Elas respondem fortemente a canções, por exemplo, começando a chorar quando escutam uma música triste.
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