W.A.S, de 52 anos, residente em Apucarana (norte do Paraná), é apenas mais uma pessoa entre tantas que já caíram na armadilha das drogas. Hoje ele trava uma batalha contra dependência do crack, após ter sido preso três vezes, a última delas na região oeste do Paraná, quando trazia maconha da Tríplice Fronteira para Apucarana. O homem lembra que chegou a fumar o tóxico na rua, ao lado da filha mais nova quando ela tinha apenas quatro anos. O entorpecente começou a se alastrar pelo Brasil na década de 90.
"Muitos jovens acham que o uso de drogas é passageiro e que podem sair dessa armadilha quando querem. A história não é bem assim. Já fui funcionário público, mas entrei no tráfico para sustentar meu vício e acabei no inferno, principalmente depois que conheci o crack, a 'pedra da desgraça'. Fiquei preso vários anos, perdi emprego, casa, carro, moto, família, dinheiro, dignidade e a moral, além de ter a saúde fragilizada. Meus dentes se deterioram junto com minha auto-estima e a vida perdeu o sentido", conta.
O apucaranense luta também para vencer a depressão decorrente da abstinência da droga. "Não é nada fácil, mas lutarei até minhas últimas forças para sair dessa, porque nenhum ser humano merece viver sob o medo, o pânico e a depreciação que essa porcaria provoca em quem a consome. Os jovens podem até pensar que maconha não faz mal, mas o primeiro 'baseado' que eu fumei foi a chave da porta de entrada para esse mundo infernal das drogas", adverte.
Recém-saído da prisão e desempregado, W.A.S. mora hoje com uma irmã em Apucarana que o acolheu. "Prometi a Deus, à minha irmã e a mim mesmo que sairia dessa e não vou desistir de lutar contra meus impulsos para conseguir o livramento da droga, apesar da depressão monstruosa provocada pela abstinência dessa pedra maldita. Só quem ficou escravo do vício pode entender o sofrimento de um dependente químico, pois insuportável viver escravizado por uma substância química mas tenho fé que ainda vou arrumar um novo trabalho e juntar os cacos do que sobrou da minha vida", afirma em tom melancólico.
O que é o crack?
O crack é uma droga feita a partir da mistura de cocaína com bicarbonato de sódio e é geralmente fumada. É uma forma impura de cocaína e não um sub-produto. O nome deriva do verbo "to crack", que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
A fumaça produzida pela queima da pedra de crack chega ao sistema nervoso central em dez segundos, devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito dura de 3 a 10 minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, após o que produz muita depressão, o que leva o usuário a usar novamente para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. Não raro, o usuário tem alucinações, paranoia (ilusões de perseguição). O crack eleva a temperatura corporal, podendo causar no dependente um acidente vascular cerebral.
Psiquiatra Narciso Marques Moure: "o crack é seis vezes mais potente que a cocaína e tem ação devastadora" - Foto: TNONLINE
Aparência esquelética
"Essa droga causa grande destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo (rabdomiólise), o que dá aquela aparência característica (esquelética) ao indivíduo: ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas aparentes. O crack inibe a fome, de maneira que os usuários só se alimentam quando não estão sob seu efeito narcótico. Outro efeito da droga é o excesso de horas sem dormir, e tudo isso pode deixar o dependente muito debilitado e vulnerável a doenças", alerta o psiquiatra e médico legista Narciso Marques Moure.
Seis vezes mais potente que a cocaína
O médico ressalta ainda que o crack é seis vezes mais potente que a cocaína e tem ação devastadora, provocando lesões cerebrais irreversíveis e aumentando significativamente os riscos de um derrame cerebral ou de um infarto.
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