Moradores de cinco municípios da Comarca de Ivaiporã (norte do Paraná) promoveram um abraço simbólico na Cadeia da 54ª Delegacia Regional de Polícia, que fica no centro da cidade. O ato cobrou a transferência dos presos condenados e reforma na carceragem que se encontra em condições precárias. Durante o manifesto, os organizadores iniciaram um abaixo-assinado, que será enviado ao governador Beto Richa (PSDB) e ao secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira.
O ato, organizado pelo Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), teve início às 10 horas, na praça Manoel Teodoro da Rocha. Após a concentração, os manifestantes saíram em passeata até a cadeia. Segundo o presidente do Conseg de Ivaiporã, Jair Antônio Burato, o protesto foi realizado para chamar a atenção das autoridades e mostrar a situação caótica da cadeia da comarca.
“Estamos mostrando o caos que se tornou a carceragem aqui de Ivaiporã. Temos 166 presos em um espaço onde cabem, máximo, 32 pessoas”, comenta. Ainda segundo Burato, é necessária a transferência imediata de todos os presos condenados para penitenciarias – a estimativa é que 70% já receberam pena - e a reforma urgente da cadeia.
“Precisamos dar maior segurança para a população que mora nos arredores, agentes e policiais que lá trabalham e mais dignidade para os encarcerados. Ou resolvem essa situação ou em breve teremos uma tragédia”, assinalou Burato. O Conseg já se propôs a fazer a reforma da cadeia e chegou a comprar parte do material para a obra no final do ano passado, mas o projeto não pôde ser colocado em prática por conta da superlotação.
Osias Mainarde, pastor da Igreja Batista, que também participou do protesto, comenta que a comarca de Ivaiporã tem o pior sistema penitenciário do Paraná. “A média do Estado é 10 vagas para cada 14 presos. Aqui, a cada 10 vagas temos 52 presos. É a mesma coisa que colocar 26 pessoas dentro de um carro com capacidade para 5. Isso gera uma superlotação que acaba com a dignidade dos encarcerados e, por outro lado, põe em risco a segurança da cidade”.
Mainarde comentou ainda sobre o desperdício de dinheiro público por conta da superlotação. “A conta de água, por exemplo, é em torno de R$ 35 mil por mês, ou seja, mais de R$ 400 mil por ano. O consumo real por mês deveria ser de cerca de R$ 2 mil, o restante é por causa de vazamentos”, argumentou Mainarde.
"Retrato da indignação por conta do descaso"
Para o vice-presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná, Ricardo Casanova, o manifesto é o retrato de uma população que não aguenta mais o descaso com a segurança pública. “É uma situação que perdura faz muitos anos aqui em Ivaiporã e não há sinal de resolução. Esse problema acaba engessando a Polícia Civil, pois nós não conseguimos realizar os nossos trabalhos da maneira que deveríamos. A população fica desamparada, e isso acaba gerando impunidade”, completou Casanova.
Outro lado
Em nota, a Segurança de Segurança Pública afirma que tem trabalhado para reduzir o número de presos em delegacias. Semanalmente, o Comitê de Transferência de Presos (Cotransp), que conta com representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público, autoriza a transferência de presos de delegacias para o sistema prisional.
No entanto, as vagas só são abertas com a saída de presos e, para isso, é preciso autorização do judiciário. A Sesp lembra, ainda que o Paraná tem um planejamento para 14 obras que ampliarão em cerca de 7 mil o número de vagas no sistema penitenciário.
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