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Busca pelo parto humanizado conquista mulheres de uma nova geração

O parto normal foi durante milhares de anos o único meio de trazer ao mundo uma nova vida. Segundo historiadores, a primeira cesárea aconteceu nos anos de 1500, na Suíça, por Jacob Nufer. Ele realizou o procedimento em sua esposa com o auxílio de duas par

Da Redação

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Doula Jéssica, doula Marília, mamãe Fernanda e doula Letícia. (Foto - Arquivo pessoal)
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Doula Jéssica, doula Marília, mamãe Fernanda e doula Letícia. (Foto - Arquivo pessoal)
Escrito por Da Redação
Publicado em 18.09.2016, 13:58:00 Editado em 18.09.2016, 18:09:41
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O parto normal foi durante milhares de anos o único meio de trazer ao mundo uma nova vida. Segundo historiadores, a primeira cesárea aconteceu nos anos de 1500, na Suíça, por Jacob Nufer. Ele realizou o procedimento em sua esposa com o auxílio de duas parteiras e depois fechou o corte. Anos se passaram e com o avanço da medicina, a cesariana se tornou um dos métodos mais procurado pelas mulheres.

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Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015, apontam o Brasil como o país com maior índice nos números de cesáreas, com 57%. A organização chegou a tratar a situação como “epidêmica”. Estudos do Ministério da Saúde mostram ainda que 84% dos partos realizados através da rede privada são de cesárea, enquanto na rede pública os números baixam para 40%.

Apesar dos indicativos serem realmente altos, a procura e interesse das mulheres pelo parto humanizado tem crescido e voltado a fazer parte da realidade de novas mamães, que buscam, espontaneamente, na forma natural a concretização de um sonho.

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Nesse parto, a mãe é quem dita as regras. Ela se torna protagonista do seu momento e decide como e onde terá seu filho. Na maioria dos casos, as mulheres ainda ganham em um hospital, porém com o mínimo de intervenções técnicas, cirúrgicas e anestésicas possíveis. Nesse procedimento, a mulher respeita a sua própria natureza e aguarda o tempo do seu bebê. 

Diferente do parto normal, em que as mães são submetidas a ficarem deitadas em uma maca recebendo interferências e medicamentos que aceleram o processo, neste parto a mulher busca o conforto no abraço do seu companheiro, a segurança na paciência da sua equipe e a tranquilidade no apoio da sua doula – profissional que acompanha as mães durante a gestação até o parto.

Segundo a OMS, a presença das doulas diminui em 50% os índices de cesáreas, 40% o uso de ocitocina, 40% o uso de fórceps, 30% o uso de analgesia peridural e 25% a duração do trabalho de parto. 

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E foi pensando nisso, em incentivar e auxiliar as futuras mamães nesse processo decisivo de busca e descobrimento, que o grupo Doulas em Londrina, formado pela Marília Mercer, Jéssica Vasconcelos, Leticia Duarte Neris, Lua Beltrame e Lorena Mussi, nasceu no final de 2013. Em quase três anos, a única equipe de doulas do Brasil já acompanhou quase 200 partos. 

Residentes de Londrina, no Paraná, o grupo tem atendido mulheres de toda região. “As cidades vizinhas não têm hospitais que facilitam esse trabalho. A queixa das mulheres é sempre que eles não oferecem acesso e nem estrutura”, conta Jéssica, que revela atender mamães de várias cidades do Paraná. “Elas vêm pra cá e a gente consegue fazer esse acompanhamento. Nosso suporte pré parto é prioritariamente informacional com reuniões mensais, com os casais (pai e mãe). Essas informações durante toda gestação trazem para eles as escolhas que eles querem”, explica ela que também comenta que durante as reuniões, o casal tem também a oportunidade de conhecer outros futuros papais que também estão passando pela mesma experiência, o que enriquece ainda mais a troca. 

Próximo ao final da gestação, os casais passam a ser atendidos separadamente, onde entram as informações mais práticas como as ultimas duvidas e orientação de como identificar o inicio do trabalho de parto, como é a dor, como proceder, etc. No dia, o acompanhamento começa a partir da identificação da mulher som os primeiros sinais. “A princípio a gente vai auxiliando por telefone, para dar espaço pro casal viver esse momento entre eles e sem pressa. Quando o trabalho de parto já está avançado, nós entramos com os cuidados presenciais e começamos com nosso apoio”, complementa Jéssica. 

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De acordo com ela, neste momento cada mulher vai demandar uma coisa. “Algumas pedem massagens, a outras é sugerida posições que diminuam a dor. Até mesmo uma preocupação com água quente e luz, fatores que favorecem o processo. Preparamos o ambiente para que ela se sinta acolhida e dentro das possibilidades, da melhor maneira possível”, explica. 

Jéssica descreve que a função doula é muito antiga. Anos atrás, quando as mães ganhavam seus nenéns, elas contavam com o apoio das parteiras e outras mulheres que moravam perto e ajudavam. A ideia vem dessa época, trazendo de volta essa companhia. “A doula não substitui medico, não substitui enfermeira. Eles cuidam da parte técnica e fisiológica, enquanto nós cuidamos do momento e do emocional”, pontua ela que cita ainda alguns exemplos que vão desde “amarrar um cabelo, oferecer uma água, incentivar, dar segurança e força. A doula cria um ambiente de respeito e amor nesse momento especial”. 

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Os medos também rondam as futuras mamães nesse processo,  que é algo natural, principalmente quando elas são de primeira viagem. Receios, tabus, desinformação; tudo isso alimenta a insegurança e traz dúvidas. Um dos maiores questionamentos das mulheres é com relação a dor. Jéssica conta que ela existe sim e que isso é sempre tratado com muita sinceridade, porém ela afirma que ''tem dor, mas tem muita alegria também". 

Ela ressalta ainda que nessa hora a busca é de proporcionar tudo aquilo que um parto pode trazer, a emoção e toda força que aquela mãe tem, que existe e vai estar ali. "Os medos vão percorrer esse caminho com a mulher desde o começo, mas precisamos mudar a forma de encarar. É uma dor diferente de qualquer outra, a dor do parto não causa sofrimento, é a dor do amor. 

E nessa busca de poder sentir todas essas emoções, a apucaranense Fernanda Schecheli Bussolo, de 31 anos é um exemplo de que sim, é possível viver isso da forma mais plena e que o trabalho das doulas faz toda a diferença nesse sentido. Mamãe de duas crianças, Luíza (04) e Pedro (10 meses) ela compartilhou a experiência dupla com o apoio dessas profissionais. 

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Em sua primeira gestação, Fernanda deu à luz a Luíza em Belo Horizonte, Minas Gerais, e contou com a ajuda de uma doula. Três anos depois, em Apucarana e vivendo sua segunda gravidez ela tinha uma única certeza; queria repetir a dose. 

Como a procura pelo parto natural em Apucarana ainda é baixa e os hospitais não são adequados para o procedimento, Fernanda foi até a cidade de Londrina, onde conheceu as meninas do grupo Doulas em Londrina. “A Izabel e a Jéssica significaram um porto seguro, alguém que estava lá para me lembrar de respirar, para me confortar com uma massagem, para encorajar em um momento de fraqueza e me tranquilizar de que tudo daria certo, por mais difícil que fosse”, aponta ela que avalia positivamente esse apoio, já que o ‘’marido esteve presente nos dois nascimentos, mas os papeis são completamente diferentes, pois, ele, assim como eu, estávamos tomados por muita emoção”, conclui. 

Com a presença de seu obstetra, equipe médica e das suas doulas, Fernanda trouxe ao mundo Pedro, em uma suíte de parto do Hospital Coraçãozinho, unidade que atende crianças e gestantes do Hospital do Coração, em Londrina. 

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A sementinha do parto humanizado, como Fernanda mesmo diz, nasceu através de seu marido na época da faculdade, quando ainda nem pensavam em ser pais. “Ele tinha aulas em uma maternidade pública e me contava dos partos, um dia ele chegou entusiasmado com um dos plantonistas, que fazia um parto diferente, sem intervenções”, conta. Ela ainda acrescenta que nesses relatos ele comentava que as mulheres pareciam satisfeitas após o parto e “felizes com a experiência de que não era só de dor”. 

Anos depois, ao descobrir sua gravidez Fernanda já tinha decidido que queria ser a protagonista dessa história. “Meus dois partos foram como eu queria. Com respeito ao tempo do bebê, com respeito ao meu protagonismo e com acolhimento das necessidades da nossa família”, relata, orgulhosa. 

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Para ela, a escolha do parto humanizado envolve ainda muita busca. Encontrar o médico certo, o hospital certo, a doula que vai ser sua fonte de confiança e segurança e muita pesquisa sobre o assunto, são os conselhos que ela deixa as mulheres. 

A araponguense Leslie Candeias Calixto (31), mãe do pequeno Francisco de 7 meses,  é mais uma mamãe que também optou pelo parto natural. A certeza veio após assistir um documentário sobre o assunto, logo no começo da sua gravidez. 

A vontade de sentir todas as emoções desse momento foram um dos motivos que a fizeram tomar sua decisão. O fato de poder ter o primeiro contato assim que ele nascesse também contou para sua escolha. “Nascer não deve ser fácil, é estressante para o bebê que não sabe o que está acontecendo, por isso eu queria que ele sentisse que não estava sozinho, que eu continuava ali com ele”, relata. 

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No entanto, a história teve seus altos e baixos até a concretização deste sonho. Leslie teve sua gestação acompanhada por um obstetra até a 38º semana. Ela conta que dividia com ele o desejo do parto natural desde que o escolheu como seu médico. “Ele dizia que se desse faríamos, e isso me deixava muito insegura, porque ele não falava comigo a respeito”, desabafa. 

Já no nono mês, em uma das consultas, o obstetra deu a notícia de que seu líquido amniótico estava muito baixo e que ela teria que fazer uma cesárea de emergência. “Eu saí do consultório e conversei com a minha doula, que conheci naquele mesmo dia, e que me tranquilizou. Decidi então refazer os mesmos exames com outro profissional e os resultados foram completamente diferentes”. O líquido amniótico da Leslie estava acima da média, o que não oferecia nenhum risco para o neném. “Meu obstetra fraudou um exame para impedir que eu tivesse o parto do jeito que eu queria”, lamenta.

Em meio a desespero, revolta e insegurança, Leslie buscou apoio da sua nova obstetra, que assumiu a sua gestação já no nono mês. Francisco nasceu com 42 semanas e quatro dias – apenas 5% das gestantes do Brasil têm seus filhos após a 42ª semana. “Tive a sorte de poder contar com uma médica excelente, que monitorava o desenvolvimento do bebê semana após semana. E ele nasceu como eu realmente programei, no tempo dele”, comemora. 

Leslie conta ainda que o papel das Doulas em Londrina foi fundamental para que tudo ocorresse da melhor forma. “Ela (Letícia) foi sensacional, parte ímpar na história do meu parto, se não tivesse tido essa conversa com ela no mesmo dia, o Francisco teria nascido de uma cesariana que era conveniente somente ao médico”. 

Busca pelo parto humanizado conquista mulheres de uma nova geração
Foto por Reprodução

Francisco veio ao mundo no dia 14 de fevereiro de 2016, com 3,420kg e medindo 49 centímetros, após 10 horas de trabalho de parto, no Hospital Evangélico de Londrina. “Eles têm uma ala de parto humanizado muito legal, com chuveiro, bolas de pilates, banheira, tudo que uma mãe pode vir a precisar para amenizar as dores ou que possa ajudar em termos de respiração e ansiedade”, conta ela que decidiu ter seu parto em Londrina já que Arapongas não oferece essas condições. “Infelizmente em Arapongas não temos nada disso, quem decide pelo parto normal acaba em situações precárias, tendo os bebês deitadas em uma maca”, pontua. 

No entanto, mesmo em meio a tantas reviravoltas; um final feliz. “Tive meu marido do meu lado o tempo todo, tive a oportunidade de filmar o parto, meus pais entraram na sala no momento que o bebê estava nascendo. Foi incrível”, festeja. 

E às futuras mamães, ela deixa seu recado cheio de amor e coragem. “Quando se fala em parto normal as mulheres de modo geral sentem medo da dor, eu também sentia! Mas é uma experiência única, é maravilhoso! Sem contar que a dor acaba com o nascimento, e você está preparada para cuidar do seu bebê".

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