No final de janeiro, o curso de Bacharelado em Farmácia e Bioquímica da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), na região dos Campos Gerais, no Paraná, realizou mais uma formatura, com colação de grau de 31 acadêmicos no Teatro Marista Pio XII. Seria apenas mais uma de um dos mais tradicionais cursos da instituição, se não fosse pela presença de Alícia Krüger, a primeira transexual que foi formada pela UEPG em seus 46 anos de existência.
“Estou com um sentimento de vitória. Todos os anos da graduação não foram fáceis. Eu digo isso tanto pela dificuldade das matérias do curso, quanto por todo o preconceito que vivi e posso dizer hoje que venci”, disse ela em entrevista ao Jornal da Manhã/PortalaRede. “É um sonho realizado. O preconceito nunca me fez desistir. Ele só me impulsionou a estar onde estou hoje”, completou.
Na sua história acadêmica, Alícia sempre se mostrou uma pessoa fortemente engajada. Foi a primeira mulher transexual a ter uma cadeira em um Conselho Superior de uma universidade do Brasil, integrou também a Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional de Ponta Grossa, e graças a sua atuação, conseguiu a aprovação do uso do nome social para pessoas travestis e transexuais na realização de concursos vestibulares, Processo Seletivo Seriado (PSS) e na admissão de professores e funcionários dentro da UEPG. “Foi uma conquista pioneira dentro do Brasil. Eu acredito que somente através da equidade, conseguimos promover a igualdade. Todos temos nossas diferenças e nossas particularidades. E elas devem ser levadas em conta”, explica.
Natural de Ponta Grossa, em sua trajetória de vida, tendo atualmente 22 anos de idade e acumulando grandes vitórias, Alícia afirma que a luta por reconhecimento é algo que ainda a deixa entristecida. “Na verdade eu fico triste que tenhamos que lutar por algo que deveria ser nato: o respeito. Ninguém deve se dar ao respeito para ser respeitado. Luto e dou meu sangue se preciso for para que as próximas gerações não passem pelo que eu passei”, completa.
‘Capacidade não está no gênero’
Antes mesmo de colar grau recentemente, Alícia Krüger já havia conseguido uma vaga no mercado de trabalho, atuando em Brasília, dentro do Ministério da Saúde. “Me mudei para a Capital Federal há sete meses. Sou assessora técnica do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, trabalhando principalmente com foco na juventude”, ressalta. Questionada sobre o que falaria para as pessoas que, por preconceito, duvidaram de sua capacidade, Alícia é direta. “Capacidade não está no gênero. Está no intelecto”, conclui.
Tatuagem no braço resume história de vida de Alícia Krüger
Fã da banda britânica de rock alternativo “Coldplay”, Alícia Krüger tatuou em seu braço uma frase da música “Every Teardrop Is a Waterfall” (no português “Cada lágrima é uma cachoeira”), que diz muito sobre a sua história. “Eu tatuei o trecho ‘I’d rather be a comma than a full stop’, ou seja, ‘Prefiro ser uma vírgula a um ponto final’. Essa frase antecede outro verso que diz ‘Não quero ver outra geração desistir’”, justifica.
Beleza E para quem duvida da feminilidade de Alícia Krüger, no ano passado ela também foi coroada em um concurso de beleza. Ela ficou com o título de segunda princesa dentro do concurso “Miss Curitiba Trans”. Em sua sexta edição, a disputa ocorreu em novembro e contou com a participação de 16 candidatas.
Fonte: Jornal da Manhã/aRede.info
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